Quo Vadis

Você me toma pelas mãos
Os longos dedos lisos finos cheios de anéis
E caminhamos por the long and winding road
Juntos refletindo nas pequenas poças de água um sorriso
Ouvindo o ronco dos carros nos túneis congestionados
Sentados na esquina curtindo a ressaca desta noite que começou doce e acabou como um fiapo de fruta amarga travada no dente
Mergulhados neste dia cheio de nervos e lâmpadas elétricas nos escritórios e elevadores abarrotados
Esperando dar as seis para tirar a loucura do bolso
E rumar aos shows de rock ao teatro de protesto ao acampamento nas praias ou em Monte Verde procurando cogumelos e discos voadores
Para gravar uma canção pra ela

Você me toma pelas mãos e eu não resisto
Mesmo sabendo onde esta história vai dar
O tempo acaba amaciando a carne e afrouxando as idéias
A gente vai perdendo a flama
Fica só a brasa dormida

Não me olhe com este olhar maroto
Fingindo que está tudo certo
Para mim está tudo torto
Abaixo deste carinho o mundo material é uma seda rota
A violência anda solta
A rua real é composta de homens que atropelam mulheres grávidas na calçada
De gangs adolescentes que esfaqueiam mendigos

Mas você se recompõe a toda hora
Vai dando corda nos dias como se fosse um brinquedo ou um relógio
Para mim dói
As janelas fechadas as bocas travadas o ônibus pontualmente no ponto segunda terça quarta quinta e sexta
Parece que falo língua estrangeira em meu próprio país
A lua cruel ri de minha ignorância
O vento bem que poderia me arrastar e me colocar na praça central de Marrakesh
Lá eu não entenderia uma palavra sequer
Lá, quem sabe, eu seria feliz

Mas, caminhemos
Segure firme
Quero apreciar o precipício
Lá embaixo onde as flores sem pedúnculo flutuam
Onde o mar deposita seus baús e convida os desesperados os amantes, os solitários, as crianças para uma volta no tapete voador,
E os fantasmas sentem o calor do sol, a aspereza da areia, o sal da água
Repare como cantam exercitando a voz recém reconquistada
Ouça o eco que flutua neste cânion de pedra
E que só nós e os animais conseguimos ouvir

Lá, onde o espelho ficou retido
E os reflexos prisioneiros esperam com a calma dos condenados
Serem libertados

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