eu sei onde ladram os ventos pelos ladrilhos  
dos mistérios inexistentes. 
eu sei de que matéria esta sensação de derrota  
é feita, moldada, entre instrumentos de  tortura 
e pálpebras e espelhos  amassados. 
eu sei dos que falam no escuro  a flauta da voz 
das fábulas.  
eu sei através do vídeo o vácuo do sangue atrás e  além 
da imagem, violentos planetas  vomitando o drama. 
eu sei as tartarugas  infinitas. 
os bodes expiatórios.  
os lavabos cheios de unhas vivas.  
a eternidade do gesto humano 
morrendo no longo tombadilho. 
sei das certezas e incertezas verdes. 
sei do resumo de tudo dançando na chuva mais  cotidiana. 
só não sei do teu sorriso se  diluindo em nuvem. 
só não sei do teu corpo  quase infantil 
de mulher  amanhecida. 
só não sei do timbre de tua  voz 
entre borboletas e musgos fluindo do  único verbo. 
só não sei do opalescente  rastro de teus pés 
entre cachoeiras  apagadas. 
só não sei da galáxia a resumir  vazia 
o silêncio mortal de tua alma  quebrada. 
ai de mim 
que eras ouro e breve. 
