Noturno praiano no reveillon

O mar vomita imagens no meu crânio 
Que lateja prestes a explodir e libertar milhares de símbolos
Como os fogos que espocam no réveillon lançando morteiros e estrelas no céu da praia de seixos e ossos de náufragos de ilhas distantes
Na areia e no pó dos corpos marinhos reduzidos a quase nada
Que um dia o mar alimentou e o vai e vem das marés embalou como um berço
No silêncio sem eco das cavernas submarinas onde a luz não chega e os peixes cegos tateiam os corais enfeitiçados que dançam ao sabor do fluxo das águas
Onde os baús aguardam o próximo século para serem abertos e as garrafas flutuam com mensagens do fim do mundo
Que se remexem no meu cérebro
Eu estou preso a estas emoções com as cordas do meu amor que me mantém atracado firmemente mesmo durante os tsunamis e as bebedeiras de vodka, mesmo enquanto as sereias perguntam Have you ever been to Eletric Ladyland? e os solos de guitarra vagueiam e reverberam como uma trilha sonora tocada pela brisa
Os peixes dançam, as baleias e os golfinhos comunicam-se por música
Faróis pulsam para lá da neblina onde um homem mora solitário aguardando um amor que não vem
Que não vem
Ele é como uma nau com as velas rasgadas
Sem porto de chegada
Vagando pela eternidade
Até que alguém resolva afundá-lo
Libertando seus piratas da terrível maldição e dissolvendo-os no sal.

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