estou meio perdido e não é muito bom ir envelhecendo e
encontrar-se apenas meio achado mas eu na verdade nem tenho tentado me
encontrar eu simplesmente estou indo sem saber bem para onde até um tempo atrás
tentava organizar as coisas dar-lhes um sentido estar no controle e aí vivia
interiormente pois é lá dentro que estão os planos a vontade de controlar e de
dominar quando abandonei este “querer o poder” consegui olhar para fora e aí
encontrei o meu corpo e a natureza os dois juntos e me pareceu que bastaria
tocar em frente como uma boa definição da vida passei a observar o outro não o
humano mas todas as coisas e elas simplesmente seguem inteiras dentro do minuto
do segundo do momento com a incapacidade humana de representar a natureza
melhor mesmo é vive-la e reverenciar o que é objetivo e concreto e comum a
todos nós mas nesse momento me aparece o eremita e sua mensagem de
interiorização e eu já sei onde estas coisas vão dar caso a gente não dê
atenção vem o destino e zás puxa o tapete e nos submete a um estado em que
mesmo a contragosto as coisas acontecem pois são tão fortes as coisas e eu não
quero me revoltar mas aceitar passivamente também não mas o que pode o homem
contra forças que sequer conhece o homem e sua fragilidade seu nada nos
extremos (hoje estou drummond) só nos internos o cavalo branco no escuro de
dentro corre na roça desolada triturando o que sobrou com a força de seus
cascos impossível neste momento montá-lo ele corre a frente de tudo de todos
porque caminhos quase infinitos ele cavalga são estradas por dentro no mínimo encontra-se
o máximo força ainda me resta e eu desejo resistir afinal esta é uma boa
definição da vida resistir até que um dia não consigamos transpor as barreiras
que o destino vai colocando e aí já era mas por enquanto vou achando sentido na
cultura humana que é uma forma de adaptação extra somática conforme nos dizia o
grande professor ulpiano nas aulas de história que eu matava para ficar fumando
maconha e discutindo com os amigos no pátio ou recitando poemas mas hoje é uma
gororoba que quase não dá para engolir onde foram parar todos cumprindo rituais
diários assim como eu quando olho no espelho não me reconheço tento desviar o
olhar ou mirar meio de esgueio para tentar não ver sob outro ângulo a casca
endurecida tal uma carapaça ou a profundeza do olhar que me é negado penetrar
pois existe uma lenda que quem mirar no fundo de seu próprio olho pode não
voltar perder-se para sempre atrás do espelho do olhar numa viagem para frente
que só vai só vai só vai só vai...
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