do balaio 1



estou meio perdido e não é muito bom ir envelhecendo e encontrar-se apenas meio achado mas eu na verdade nem tenho tentado me encontrar eu simplesmente estou indo sem saber bem para onde até um tempo atrás tentava organizar as coisas dar-lhes um sentido estar no controle e aí vivia interiormente pois é lá dentro que estão os planos a vontade de controlar e de dominar quando abandonei este “querer o poder” consegui olhar para fora e aí encontrei o meu corpo e a natureza os dois juntos e me pareceu que bastaria tocar em frente como uma boa definição da vida passei a observar o outro não o humano mas todas as coisas e elas simplesmente seguem inteiras dentro do minuto do segundo do momento com a incapacidade humana de representar a natureza melhor mesmo é vive-la e reverenciar o que é objetivo e concreto e comum a todos nós mas nesse momento me aparece o eremita e sua mensagem de interiorização e eu já sei onde estas coisas vão dar caso a gente não dê atenção vem o destino e zás puxa o tapete e nos submete a um estado em que mesmo a contragosto as coisas acontecem pois são tão fortes as coisas e eu não quero me revoltar mas aceitar passivamente também não mas o que pode o homem contra forças que sequer conhece o homem e sua fragilidade seu nada nos extremos (hoje estou drummond) só nos internos o cavalo branco no escuro de dentro corre na roça desolada triturando o que sobrou com a força de seus cascos impossível neste momento montá-lo ele corre a frente de tudo de todos porque caminhos quase infinitos ele cavalga são estradas por dentro no mínimo encontra-se o máximo força ainda me resta e eu desejo resistir afinal esta é uma boa definição da vida resistir até que um dia não consigamos transpor as barreiras que o destino vai colocando e aí já era mas por enquanto vou achando sentido na cultura humana que é uma forma de adaptação extra somática conforme nos dizia o grande professor ulpiano nas aulas de história que eu matava para ficar fumando maconha e discutindo com os amigos no pátio ou recitando poemas mas hoje é uma gororoba que quase não dá para engolir onde foram parar todos cumprindo rituais diários assim como eu quando olho no espelho não me reconheço tento desviar o olhar ou mirar meio de esgueio para tentar não ver sob outro ângulo a casca endurecida tal uma carapaça ou a profundeza do olhar que me é negado penetrar pois existe uma lenda que quem mirar no fundo de seu próprio olho pode não voltar perder-se para sempre atrás do espelho do olhar numa viagem para frente que só vai só vai só vai só vai...

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