My train is running

Enfiar a carta na boca do jacaré, fechar com esparadrapo, atirar no rio.
Limpar qualquer vestígio com a escova de dentes usada, juntá-la à fita cassete dos melhores momentos, jogar no rio.
Uma vida captada em imagens, em pequenos álbuns de fotos preservadas em envelopes plásticos, poucos sons para lembrar o tom da voz quando éramos felizes, muitos cadernos que contam histórias sonhadas, que não aconteceram.
Nada que lembre a vida real que tivemos.
Um catálogo de exposição de cacos quebrados em meio à chuva grossa e fria.
O cenário é uma galeria, e não fui eu que montei a exposição. A artista conversa com um homem que mostra interesse pela artista, não exatamente pela arte.
Meu trem está partindo, e eu ainda estou de lado de fora. Espero alguém? Gostei da gare?

Vou apertando o passo para saltar à nova aventura, que não sei onde será.
Sim, preciso de aplausos.
Sim, preciso de afirmação.
Sim, quero reconhecimento.

Tudo é espetáculo neste bárbaro século de muitas tribos 
Eu sou o mágico, o palhaço, o enforcado, o louco, o homem bala
A toda hora arremessado
De um ponto a outro ponto

Sim, o trem
Sim, o trem
O trem vai vai vai
Eu corro corro corro
E salto
Ouço os acordes
Quase já posso ver
Sim, a frente
A música
Quase posso ouvir
Nunca mais serei o mesmo
A música
Do estrondo das estrelas
Quase posso ouvir...


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