Meu pai em sonhos

no encontro das profundas águas do sonho
enquanto subo a ladeira ensolarada
surge meu pai rua abaixo
em sua elegância mineira
largo tudo e retorno descendo
já não é ele quem me apoia
sou eu seu eixo
sua aparência mente
o corpo cansado e fraco
e um coração já alheio
que pulsa em outras estradas em outras roças
lembra-lo fraco distante do opulento orgulho do filho das gerais
que enfrentou troços e trens
seu corpo preservado na memória parece oco

sinto o peso de sua carne etérea nos degraus quando escorrega
 e firma o passo no meu ombro firme
meu irmão, ao nos ver, segue paralelo entristecido

ele, como eu, sabe

mas é meu sonho, e cumpre a mim apoia-lo
os cavalos malhados surgem pulando animados

saltando sem encanto, as imagens desvanecem

acordo sob o peso do tempo passado
e a solidão dos anos somados
não há alegria que resista
 à ausência
sempre presente
pendurada e pensa

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