Um cerco de nuvens

vestido por dentro
de nuvens neste
intenso
frio interno

camarada tudo cabe
no exíguo espaço
do eu solitário e penso

mil mortos
o passado completo
amores primeiros
póstumos o suficiente
para te-los inteiros

sub existem
frouxos
fractais

onde guardo
o ontem:
caixa de realejo
embornal de couro suado
lata de biscoito
saco de pão

ah como cheiram 
estes cemitérios abertos na memória
por onde pendem 
cabelos e dentes

eu sou = (eu + os meus micróbios)
e não abro mão do sovado castigado e maltratado
sofá da memória
onde me sento
amiúde e lento

de lá me avistam
parabólica inescapável
a cada passo
aqui fora 
o tropeço
o peso desta bagagem que carrego

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