Dias

 
o dia escorre como um tapete enrolado
o tapete voador que não decola
como o silêncio dos surdos
sons longínquos penas que flutuam
e atravessam o meridiano 
vibram até aqui
e passam direto

um dia branco e quente
amarelo e azul (como vem sendo)
a luz cai como lâmina
espeta pele
deste dia que se arrasta para desenrolar
o tapete empoeirado

êta dia antigo como tantos outros
que não decola
dia pendurado, inerte, imóvel

manso como os brandos santos
pendurados em seus destinos

apenas um dia para envelhecer mais um pouco
para fuder a matemática dos dias que nos faltam
para zoar a estatística e faze-la imperfeita

ou pós perfeita


bebo e fumo para parar o mundo

faze-lo mais lento em seu giro
e inseguro 
tenho talento para perder-me
e arrastar os outros
à beira diária do abismo

preguiça, um dia preguiçoso
em que poucos enfrentam o sol

todos os dias a vizinha
 
em seus ritos
enterra a faca na terra
remédio contra o tédio

não há um só tempo sem o dia

os dias são para sempre

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